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A veneração do 25 de Abril reduz os dois anos mais complexos e conturbados da nossa história contemporânea a uma data, e a uma ideia. É pena, diminui a importância de uma série de acontecimentos cujo conhecimento e análise revelam muitos dos fundamentos e fragilidades do nosso actual regime. Para qualquer democracia que procura aperfeiçoar a transparência e a representatividade do seu sistema político, que preza a liberdade e o progresso do seu povo, essa análise seria um imperativo. O jornalismo militante, a censura e indoutrinação desavergonhada nas salas de aula, a conivência na nossa justiça e a obsessão pela manutenção do status quo indicam o contrário. Esta cegueira colectiva denota uma estranha necessidade de autolegitimação 40 anos depois do golpe de Estado. Ela limita a nossa capacidade crítica perante uma profunda crise sistémica, cada vez mais alarmante, relegando os interesses da Nação para segundo plano.
Segundo o relatório anual do “Economist Intelligence Unit” há apenas 25 países que funcionam em plena democracia. Portugal não é um deles.
O Índice de Democracia publicado pelo EIU sustenta e reforça o comentário de Jack Lang, político francês, republicano, de que as monarquias constitucionais são os páises mais democráticos da Europa. O nosso regime está caduco, está na altura de olharmos para outras alternativas. A bem da liberdade e da democracia.
Quando o economista e Prémio Nobel Simon Kuznets apresentou o seu novo conceito estatístico - o PIB - ao Congresso dos EUA há precisamente 80 anos, advertiu que embora fosse um bom indicador da actividade económica de um país, dificilmente se poderia inferir da mesma métrica o seu nível de desenvolvimento ou o nível de bem-estar da sua população.
80 anos mais tarde, apesar desta sábia advertência por parte do seu progenitor, comprovada por variadíssimos exemplos onde o crescimento do produto interno bruto esconde impactos nocivos no verdadeiro progresso de um país e do seu povo, o crescimento do PIB continua a ser a métrica dominante na determinação de política económica. Compreende-se, por isso, a procura crescente de indicadores alternativos que se centram na pessoa humana, tratando o crescimento económico como um meio e não um fim. As Nações Unidas têm dado um importante contributo nesse sentido através do seu programa de desenvolvimento, a UNDP.
O produto mais emblemático da UNDP é o Relatório de Desenvolvimento Humano, publicado anualmente, e o resultante Índice de Desenvolvimento Humano, onde o PIB é apenas um entre vários indicadores relacionados quer com níveis de educação e escolaridade, quer com a saúde e que nos dá uma melhor visibilidade do verdeiro bem-estar num qualquer país. Embora a maior utilidade deste índice seja a nível das situações mais complicadas nos países em desenvolvimento, também serve para ver as diferênças existentes nos países ocidentais, onde se encontra o nosso Portugal.
A monarquia é, na sua génese, um regime profundamente humanista, onde a primeira preocupação do Rei foi sempre o bem-estar das gentes. Essa prioridade, exemplificada continua e constantemente na história do nosso País, tornou o Rei no principal aliado do povo contra as estruturas que foram ameaçando os seus direitos fundamentais. As monarquias modernas, apesar da posição não-executiva do monarca, conseguiram conservar essa ligação onde o povo vê na independência e autoridade da Instituição Real o seu último reduto, acima da luta política e do cíclo eleitoral e, na Família Real, a "sua" família, que se vai renovando naturalmente e acompanhado os destinos do País. É esta ligação que reforça a autoridade e legitimidade da Coroa e a sua capacidade de influenciar e intermediar junto dos actores políticos e do sector privado, em benefício do povo.
Não é surpreendente, por isso, o facto de 75% das monarquias ocidentais se encontrarem no pelotão da frente deste índice, liderado pela Noruega e pela Austrália, ambos monarquias parlamentares.
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