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Marcelo Rebelo de Sousa: o Pecado Original

por Causa Real, em 28.09.18

Marcelo é um animal político no melhor sentido da palavra. Porque tem instinto, inteligência emocional, energia, fome de palco, vontade de intervir naquilo que hoje chamam o espaço público. Se estivéssemos a falar de um Chefe de Estado à americana, Marcelo tinha tudo: o sorriso, o afecto, a disponibilidade, a fotogenia, tudo o que se procura num político que possa assumir-se como agregador da nação, das suas culturas e identidades – numa época onde elas valem sobretudo pelo que se vier a saber que fizemos por elas e muito menos por algum trabalho sério que aprofunde a agregação cultural e sentido identitário da Nação.

E nisso Marcelo parece tão imbatível que começamos a temer que se nos acontecer uma graça ou uma desgraça, Ele nos entre pela porta adentro.

Nessa linha deste espumoso paternalismo ou, para ser mais sério, de alguém que parece preocupar-se com a vida e o bem-estar da Nação que representa, não há pai para Marcelo. Fareja a desgraça e faz dela uma festa de reconciliação e unidade; celebra a vitória, com enorme generosidade medalhística; e faz algo que exige vocação e sacrifício – que o diga Rui Rio, está presente! No bem, no mal, no assim-assim! No incêndio mais devastador, na mais paradisíaca praia fluvial, ou nos anos do sobrinho de um dos seus condóminos, Marcelo está lá! Disposto a tudo, atento ao que mexe, armado de um sorriso que nos reúne e que ele faz questão de registar em todas as selfies que puder.

O clímax deste frenesim mediático do Presidente a que assisti com genuíno divertimento – foi quando afastou a equipa médica que o tratou e fez (ele próprio) o relato do boletim clínico (dele próprio), numa altura recente em que um golpe de sol lhe terá provocado uma quebra de tensão.

Para o populismo que aí anda, onde uma Cristina Ferreira vale 10 primeiros-ministros e um Cristiano Ronaldo 100 Governos e Assembleias juntos, Marcelo veste bem o que os dias das sociedades mediáticas e dos populismos fáceis parecem exigir a um Chefe de Estado. A frivolidade que é inerente a este tipo de cultura recente pode tornar estas figuras mais fugazes, pelo desgaste e cansaço que advém de ter que estar, como a melga e o tremoço, sempre, alegremente, presentes!

Mas não é só esta a outra face da moeda. A outra pode resumir-se verdadeiramente numa palavra singela: a Verdade! Nada ou quase nada do que nestas sociedades populistas parece, realmente é! E, principalmente, nada é para ser levado muito a sério. Vejam com cuidado que consequências práticas advieram, em todos os principais dossiers da vida pública, de tanta rodopio e preocupação “marcelista” com a vida dos Portugueses.

A cereja em cima do bolo vem agora com Joana Marques Vidal. Recomendo que ouçam, serena e atentamente, as palavras espalhadas já nas redes sociais do publisher do Observador, José Manuel Fernandes, a este propósito. O afastamento de Joana Marques Vidal é o exemplo de um “conluio” estabelecido entre o sistema político para se proteger das suas fragilidades. E tal como noutras circunstâncias a rosto deste “conluio” reuniria numa “selfie” sorridente, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa.

Muitos têm dito que Marcelo exerce a sua magistratura como um Rei. Faltam-lhe, sinceramente duas coisas – A VERDADE que o afasta do original para uma mais vulgar imitação daquilo que afinal só parece ser e o pecado original de tudo isto; A INDEPENDÊNCIA – a distância que todos precisávamos que o Chefe de Estado tivesse do sistema político e das suas declinações!

 

António Souza Cardoso

Presidente da Causa Real

Publicado Originalmente no Observador

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editado por João Távora a 1/10/18 às 19:46

Prova de Vida

por João Távora, em 06.10.16

marcelo_5outubro16_hastearbandeira.jpg

Ouvi com a atenção que pude o início do discurso do Senhor Presidente da República nas Cerimónias oficiais do 05 de Outubro.

E descobri, logo nas palavras iniciais, o pior lado de Marcelo.

O lado que lhe sobrou, não da brilhante carreira académica mas da liça politica onde sempre teve que trocar uma informação por uma deslealdade, um ar de graça por uma diatribe qualquer.

Marcelo começou o discurso sublinhando que o 5 de Outubro estava vivo! E entreteve-se a dar-lhe prova de vida.

Antes tivesse dito que estava vivo porque pertencia ainda ao calendário. Mas não disse!

Disse que o 5 de Outubro estava vivo em Portugal porque podemos escolher os nossos dirigentes sem termos que confiar em nenhum princípio sucessório. Olhei com incontida ironia para a mesa que o rodeava e que anuía a este estafado argumento, com acenos de cabeça tranquilos e sabedores: O Primeiro Ministro, o Presidente da Câmara de Lisboa e o Presidente da Assembleia da República que para além de irmanados nas acolhedoras palavras do Presidente, tinham apenas em comum o facto de nenhum dos 3 ter sido directamente eleito pelos portugueses, para o cargo importante que ainda ocupam.

Marcelo sim, foi eleito. Por uma minoria de cidadãos que de 5 em 5 anos são e serão chamados a escolher para Chefe do estado um, de entre dois portugueses: O que foi escolhido para o cargo pelo PSD e aquele outro que foi escolhido pelo PS.

Desde o General Eanes que emerge do período militar pós revolucionário, que o cargo é invariavelmente ocupado por um ex-lider de um destes dois partidos. E assim será pelos tempos fora, em nome de uma liberdade que, todos sabemos, está aprisionada a uma partidocracia sem ética, competência ou responsabilidade.

Por isso e porque a primeira fila estava repleta das não eleitas primeiras figuras do Estado Republicano, Marcelo precisou de fazer mais provas de vida. E falou vaga e obscuramente de uma ética que não sabemos bem qual é e que ligação possa ter ao 5 de Outubro.

Julgo que a ética republicana era apenas e historicamente a de se não traírem uns aos outros -desconfiados que eram e camaradas que pretendiam ser. Mas foi extrapolada como inspiradora de uma virtude que a República nunca fomentou, porque simplesmente nunca teve.

Quem lê a história dos primeiros 16 anos de República fica perplexo com tantas faltas de ética. Quem mergulha nos 48 anos de ditadura que se lhe seguiram, compreende que a ética republicana não tem muito a ver com tolerância, escolha ou liberdade!

Marcelo rematou esta prova de vida da pior maneira. O 5 de Outubro está vivo, dizia com aquela convicção dos velhos tempos, porque é o garante da falta de promiscuidade entre o poder político e o poder económico. Fiquei realmente atónito e a pensar nos muitos dirigentes da República que a justiça constituiu como arguidos por esse mesmo motivo. Fiquei a pensar que Portugal é porventura uma das únicas democracias do Mundo que, neste século, teve um seu Primeiro-ministro preso por essas exactas razões.

Na atabalhoada prova de vida, com referências despropositadas á Monarquia, Marcelo falou muitas vezes de liberdade. Como se as mais evoluídas democracias da Europa que são Monarquias não nos dessem lições de liberdade.

Como se o 05 de Outubro de 1910 que começou realmente dois anos antes com o assassinato do Chefe de Estado, o Rei Dom Carlos, não fosse uma revolução violenta perpetrada pelo partido Republicano (sim, existia!) que nas últimas eleições de então, não lograra atingir os 10% dos votos expressos.

E que, por isso, se apressou a fazer uma revolução para afirmar uma forma de regime que nunca foi sufragada pelos Portugueses e ainda hoje lhes é imposta pela Constituição. Na parte que eu não ouvi, o Presidente Marcelo, passou o tempo a dar provas de morte da Republica e da ética republicana.

O 05 de Outubro, caro Presidente Marcelo, está vivo, sim! Mas por outras bem mais elevadas razões. Porque comemora o dia da Fundação de Portugal consagrada pelo Tratado de Zamora em 05 de Outubro de 1143. E nós Portugueses, como todos os outros Países civilizados queremos festejar a nossa independência, a nossa existência como Nação. Só por isso o 05 de Outubro não morrerá!

 

António de Souza-Cardoso

Presidente da Causa Real

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Marcelo, de Sua Graça!

por João Távora, em 15.03.16

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, empossado como 20º Presidente da República Portuguesa, está em absoluto estado de graça.

É o Presidente dos afectos que saiu lá de casa onde entrava todos os domingos, directamente para o Palácio de Belém. Para trás ficou um passado partidário longe do arquétipo hoje criado por Marcelo. A mesma irreverência, quase traquinice, nos mergulhos do Tejo e outros pequenos narcisismos, mas a diferença abissal de ser, não o Presidente do PSD que só conseguiu ganhar referendos duvidosos, mas o nosso Presidente - o do segredo das nossas casas e famílias que, quase invariavelmente, têm no plasma o seu principal interlocutor.

Marcelo fez a posse que queria – ao seu estilo, juntando tudo, sem medo que a mistura parecesse mixórdia.

Sem ter, desta vez, que fazer de morto para estar com todos, mas antes usando agora a sua superior influência para nos abraçar na sua benévola condescendência. Marcelo percebeu que o mundo frívolo e mediático que estamos, vive de sinais, de pequenas, sintomáticas, frivolidades e, por isso, imita a fórmula do Papa Francisco nessa ideia de tudo abraçar e compreender.

Mas Marcelo sabe que essa postura que é da essência permanente do Chefe do Vaticano não se ajustará por muito tempo, a quem lidera um País com as dificuldades que Portugal terá que enfrentar.

Marcelo, agora que tem que fazer prova de vida, que é chamado ao jogo, não pode mais pactuar com tudo e com todos, porque o mundo e o País estão muito mais para decisões difíceis do que ecuménicas!

A maioria que não manda, exercerá uma pressão crescentemente asfixiante sobre a minoria que tem que decidir. E que tem que decidir em cima de rectificativos, de rectificações, de rectilíneos desígnios que o BCE não admitirá excepcionar para Portugal.

António Costa não pode por muito mais tempo virar as costas ao jogo de máscaras em que se meteu. Não pode ser o bom aluno que a Europa exige e o “enfant terrible” que a “sua” maioria impõe. E Marcelo será chamado a arbitrar a primeira vez em que António Costa não tiver tempo para mudar de máscara.

E esse momento será mais breve do que o próprio Marcelo gostaria. Bastará que o sistema financeiro e as economias mundiais continuem a sua previsível periclitância e que o novo PSD chegue à conclusão que é a sua vez de “fazer de morto” e deixar de dar pretexto a António Costa, para continuar a poder ter um discurso para “português ouvir”!

Marcelo, de Sua Graça, tem pouco tempo para esta risível colagem às características de um Monarca. Percebo que goste, tanto como eu, dos valores da independência e da relação afectiva que o Rei tem com a Nação que representa. Mas por mais que engrace com a ideia, não pode fugir á sua natureza e á da Família politica de onde emana.

 E, também por isso, terá pouco tempo de exercer a graça natural que tem e o seu período de graça, terminará brevemente, para que Portugal não caia em desgraça!   

 

António de Souza Cardoso

Presidente da Causa Real

In Diário de Notícias

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Bem vindo ao Blog daCausa Real, um contributo para discussão de um Portugal com futuro. A Causa Reall coordena, a nível nacional, o movimento monárquico, tendo como objectivo principal a promoção de uma alternativa política para Portugal.


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