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A visita dos Reis de Espanha, como de qualquer Casa Real, a Portugal causa sempre um impacto mais forte e afectivo do que a vinda que qualquer outro Chefe de Estado. Porque será?
Julgo que a Instituição Real – a Família Real, se afirma mais facilmente como um referencial da história, da cultura e da identidade de um Povo. E que este capital simbólico que já de si propicia afectividade, ganha hoje relevância ainda maior pela crise por que passam os sistemas político-partidários de todas as democracias. A corrupção e a crise de responsabilidade das classes dirigentes tem afastado progressivamente as novas gerações de uma participação mais activa na vida pública e aberto espaço para todos os populismos e radicalismos que emergem perigosamente em todo o Mundo.
Daí a necessidade de assegurarmos, como no caso da Instituição Real, elementos de agregação e de identidade, perenes, estáveis, indiscutíveis – que existam para além do sistema político e partidário e que gerem um vínculo directo com a Nação.
Os Reis dão, por outro lado, estabilidade, continuidade e notoriedade ao Estado. Ninguém saberá dizer o nome do Presidente da República italiano ou do Chanceler alemão, mas todos conhecem os Reis de Espanha ou a Rainha de Inglaterra. E esta pequena diferença, faz muito num mundo globalizado e mediatizado, onde as influências económicas e políticas exigem o conhecimento e o reconhecimento que é dado pelos valores da continuidade e da notoriedade.
Claro que podíamos também dizer que o Rei é suprapartidário – isento portanto em todo o jogo político da governação e, por isso mesmo, mais capaz de fazer a sua regulação como exigem a maioria das democracias constitucionais. Não é árbitro numa disputa onde já foi jogador de uma das equipas e isso dá-lhe a distância para decidir sem reservas passadas ou premeditações futuras.
Mas esse não é, hoje, o meu ponto. Nem esse nem o da estabilidade que o Rei proporciona permitindo que a governação e o desenvolvimento social e económico se cumpram – não é por acaso que a OCDE destaca que 7 dos 10 Países mais desenvolvidos do Mundo são Monarquias.
E não é esse o meu ponto, porque venho falar de um Rei que não é Chefe de Estado. Mas que poderia continuar a ser Rei dos Portugueses – referencial da nação que somos e que extravasa muito o nosso território para abraçar todas as diásporas que fizemos ao longo da história, que desenvolveram uma cultura e uma língua únicas, presentes em todo o Mundo.
Portugal tem um Rei, uma Família Real de que se poderia socorrer para fazer valer esse Património e essa Cultura, proporcionando novos desígnios de um mundo Português que na sua essência representa uma centralidade e uma estratégia geopolítica muito mais promissoras.
Claro que tudo se cumpriria melhor se este Rei dos Portugueses fosse Rei de Portugal. Mas para os que ainda vivem do preconceito de uma República que não consegue servir e qualificar a democracia constitucional que mais recentemente escolheu como forma de governação, fica o desafio de pensaram se temos o direito de dispensar o valioso papel que, mesmo em República, poderia ser exercido pelo Rei dos Portugueses!
António de Souza-Cardoso
Presidente da Causa Real
Foi com grande alegria que os Portugueses tomaram conhecimento da reposição do feriado do 1º de Dezembro!
Tenho afirmado que sem a Restauração de 1640 a nossa história ficaria muito pobre, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa não existiria e hoje seríamos apenas uma região do país vizinho, a reclamar a nossa independência.
Nas visitas que a minha Família e eu realizamos por todo o País, convidado pelas autarquias e outras comunidades locais que tão amigavelmente me recebem, e nas minhas deslocações ao estrangeiro, comprovo que os representantes dinásticos das Famílias Reais constituem um factor de identidade, valorizado pelos povos, que no caso português inclui também um sentimento de pertença dos povos que partilharam a nossa História. Esse facto atribui-nos responsabilidades particulares no sentido de contribuirmos para a coesão nacional.
Essa coesão está ameaçada por factos que tenho procurado alertar e que o tempo tem comprovado.
O aumento progressivo da esperança média de vida exige-nos renovados cuidados de envelhecimento activo de forma a os reformados poderem continuar a sentirem-se úteis e a participar na sociedade. A emigração das novas gerações deve ser atalhada com medidas que façam os jovens sentir-se bem e realizar-se no país que os viu nascer.
A crise de natalidade é particularmente dramática em Portugal. Dezenas de milhares de crianças são mortas antes de nascer e esta é uma realidade que se verifica em todos os extractos sócio-económicos. Este drama exige-nos uma mudança para que o sentido de família se sobreponha ao egoísmo exacerbado da competição social e a falta de condições económicas seja ultrapassada com valores comunitários.
Se estas mudanças não surgirem a curto prazo, geraremos um gravíssimo decréscimo populacional e desequilíbrios sociais. Não queremos o desaparecimento da vivência familiar na qual se entrecruzam gerações, e em que os idosos e os jovens são apoiados pelos familiares.
Apelo aos jovens para que as facilidades a curto prazo não façam perder de vista o projecto de constituição de família, instituição que garante a felicidade individual e constitui a base de uma sociedade equilibrada. Alerto também para o crescimento desenfreado do trabalho precário, à medida que surgem novas tecnologias e se deslocalizam serviços e indústrias. O trabalhador precário está cada vez mais isolado, sem identidade laboral, sem memória social e sem o sentido de pertença a uma comunidade.
Acima das preocupações económicas, coloco a consciência ética, social, política e ambiental. Só com esta prioridade poderemos combater a falta de cultura de responsabilidade e compromisso que provoca a corrupção, a ganância e a falta de solidariedade para com os necessitados.
A vontade de enriquecimento rápido a qualquer custo impede a tomada de decisões que teriam um maior sucesso a longo prazo. Todos nós assistimos ao sobre-endividamento de famílias e empresas que, a par de casos de má gestão no sistema bancário, criaram graves problemas à economia nacional. O sistema jurídico português tem-se mostrado ineficiente em fazer justiça nestes casos.
Apelo ao sentido de responsabilidade de governantes, autarcas e em particular dos detentores do poder económico e a todos os Portugueses, para que respeitem sempre os valores éticos, rejeitando corajosamente qualquer forma de enriquecimento ilícito, em termos morais ou legais.
A importância da abertura de Portugal a todas as culturas e povos faz parte da nossa História. Neste sentido, congratulo-me com a eleição de um português, António Guterres, para secretário-geral da ONU. É uma honra para o nosso país.
Tendo participado em negociações de paz em vários conflitos internacionais, como por exemplo em Timor, na Síria e em países africanos de Língua Portuguesa, continuo disponível para colaborar no que for útil.
Ao longo da nossa História valorizámos a transmissão de culturas, a integração racial e o intercâmbio económico. A nossa capacidade de adaptação a realidades diferentes oferece-nos vantagens únicas competitivas face às comunidades mais fechadas e resistentes à mudança. Para aproveitarmos estas capacidades, valorizemos o enorme potencial que representa o nosso espaço de influência, sejam as comunidades portuguesas dispersas pelo mundo, sejam os países lusófonos, sejam aqueles povos com quem mantemos relações seculares.
Necessitamos promover uma profunda renovação da União Europeia, livre das pressões ideológicas e partidárias e dos interesses financeiros dos países mais fortes, e que defenda os valores Europeus do humanismo, da solidariedade e da liberdade.
No mundo ocidental assistimos a crescentes demonstrações contra governantes e regimes que, comprovadamente, cada vez menos servem os sentimentos maioritários dos povos. Verificamos um progressivo afastamento entre governantes e governados e o aparecimento de movimentos radicais que exploram o descontentamento popular.
As migrações em massa de povos suscitam em muitos os receios de profundas alterações nos nossos modos de vida em sociedade. Felizmente nós, Portugueses, somos reconhecidos em todo o mundo, ao longo da História, por sabermos acolher os outros - diferentes em religião e raça - e integrá-los com a nossa espiritualidade cristã em torno dos grandes valores que unem as comunidades nacionais. Portugal dá um bom exemplo ao permitir a entrada de refugiados de modo organizado para conseguir uma eficiente integração. No entanto os dramas que levam tantas pessoas a quererem imigrar para a Europa não se resolvem com a nossa hospitalidade. Importa criar condições económicas e de segurança nos seus países de origem, ou nas regiões fronteiriças, a fim de poderem regressar quando a situação se normalizar.
Espero que esta sensibilização aos nossos problemas nos dê coragem e nos ajude a desenhar projectos colectivos para os quais cada português se sinta chamado a contribuir com o seu esforço e exemplo pessoal.
Na recente evocação do dia de Cristo Rei, o Santo Padre encerrou com chave de ouro o Ano da Misericórdia, afirmando sobre Jesus Cristo: A sua realeza é paradoxal: o seu trono é a cruz; a sua coroa é de espinhos; não tem um cetro, mas põem-Lhe uma cana na mão; não usa vestidos sumptuosos, mas é privado da própria túnica; não tem anéis brilhantes nos dedos, mas as mãos trespassadas pelos pregos; não possui um tesouro, mas é vendido por trinta moedas."
Tenho bem presente esta lição de humildade do Papa Francisco. Não me move outro propósito senão servir Portugal, sempre ciente que a minha Família e eu representamos nove séculos da História de um Povo. Para voltar a ser grande, esse Povo só precisa que não lhe cortem a Esperança e a Coroa que une Portugal.
Viva Portugal!
Dom Duarte, Duque de Bragança
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